Fere de leve a frase... E esquece... Nada
Convém que se repita...
Só em linguagem amorosa agrada
A mesma coisa cem mil vezes dita.

Mario Quintana

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

confusa

Faz tempo que não escrevo.
Não é bom sinal quando paro de escrever geralmente. Dessa vez to pouco inspirada.
To sentindo falta de coisas simples, de um monte de coisas.
Hoje to queixosa e reclamona silenciosamente. Tenho saudade de quem ta vivo e quem ta morto, tenho saudade de quem ta perto e quem ta longe. To sentindo falta até de quem mandei embora dias atrás... To com saudade de quem já voltou e dos que ainda não foram.
Tenho uma irritação constante nos últimos dias que se ameniza sempre que to perto dos meus amigos, obvio. Meus amigos, minha salvação... To chateada, to mal humorada, to ranzizinha, uma dose de amigos. Amigos falando, rindo, amigos em silencio, email de amigos, mensagem de amigos, cerveja com amigos...
O ser masculino também me ajuda no processo...pode até ser minha salvação, mas they are confusing me in the last days... então cito que certamente meus amigos sao minha salvação enquanto a espécie masculina é o que me faz oscilar entre sou sã, sou louca, ta tudo bem, ta tudo errado... vai dar tudo certo, nada vai dar certo...
Da pra ser simples e tranquilo??
Papai Noel e as entidades de virada de ano que me ouçam. Quero um coração repleto e sereno no ano de 2011...e quero sobretudo continuar desejando que a vida seja sempre melhor...desejo continuar desejando em 2011...
Desejo o mesmo pra você, começando agora.

domingo, 28 de novembro de 2010

Declaração

8 anos... Há extamente 8 anos atrás eu tive a maior felicidade que eu já experimentei e o pior medo que já pude sentir. Minha vida se encheu de alegria quando uma pequena veio ao mundo. Não, não é minha filha. Não, não sou mãe. Mas me parece que o amor que eu sinto passa por perto, e é só por perto mesmo do amor maternal. Não creio que qualquer amor possa ser maior do que o de uma mãe por sua cria, mas sei que o que eu senti em 28 de novembro de 2002 quando uma pequena franzina foi para os meus braços é um tanto inexplicável. E com o passar do tempo isso só se confirmou.
Tainá, foi e é muitas vezes meu olhar diferente pro mundo. E eu soube desde a primeira hora em que a recebi por aqui. Tive uma espécie de colapso, ausência da realidade, e medo imenso de que aquela estrelinha sofresse.
Excesso de cuidado, superproteção ou revivendo algo que não era daquela criança mas de outra que mora dentro de mim... não importa. Meu amor por ela é imenso e é o amor mais feliz que eu podia sentir.

A Tainá me ensina de tempos em tempos um mundo de coisas de formas simples:

Muitos dias da sua existência podem ser os melhores: "tia hoje é o melhor dia da minha vida". (sendo que ha uma semana atrás, e há 3 meses, e no início do ano e ontém também tinha sido)
A saudade não tem lógica ou tempo: "tia eu sei que é estranho viajar num dia e voltar no dia seguinte e uma pessoa sentir muita saudade, mas foi o que eu senti por você quando você viajou esta semana"
Que uma dor pode ser insuportável: "se essa dor no dedo não passar, nunca mais vou poder fazer nada na vida"
O amor não é simples: "porque será que eu sou tão amada?"
Pedir afeto é pedir afeto: "alguem me ama um pouco mais hoje por favor"
O processo de insonia: "sabe quando seu corpo tá cansado, mas sua cabeça grita: "vamos brincar, vamos brincar, vamos brincar", por isso não consigo dormir.

Essa menina, essa menina, é a menina dos meus olhos, me ensina todos os dias coisas complexas em tom simples, me transforma o olhar as vezes já viciado e refresca meu coração tão rotineiro.

Feliz aniversário Táta!

Com amor
Tia Bi

sábado, 27 de novembro de 2010

Voltei

Sim eu fui no show do Paul McCartney... e foi o melhor show da minha vidaaa! Voltei renovada achando que todo mundo se ama muito e que a vida pode ser muito boa. Voltei assim sendo bem piegas, bem romantica, bem mulhersinha.
Voltei assim, chorando mais do que ja costumo e rindo por mais besteiras do que de costume...
Voltei com novos amigos e com amizades velhas fotalecidas
Voltei nao querendo magoar as pessoas (essa parte ai sei que é sonho meu)
Voltei com saudades e vontade de que essa sensação fique...
Voltei com a ficha caindo de que vai rolar mais uma perda em breve... perdas anunciadas...
Voltei olhando pra pessoas e fatos que não faziam tanta diferença antes.

Quero tanto que essa sensação fique, que as vezes nao a aproveito por medo de que ela acabe. Só que isso não é como um crédito que você tem tempo pra gastar quando se quer. Ou se aproveita quando se sente ou não. Ou se tem o momento ou não... ou se vive ou não...

sábado, 13 de novembro de 2010

Viagem

Uma viagem é necessária para lembrar

a existência exígua das coisas...

Injuriado

Se eu só lhe fizesse o bem
Talvez fosse um vício a mais
Você me teria desprezo por fim
Porém não fui tão imprudente
E agora não há francamente
Motivo pra você me injuriar assim

Dinheiro não lhe emprestei
Favores nunca lhe fiz
Não alimentei o seu gênio ruim
Você nada está me devendo
Por isso, meu bem, não entendo
Porque anda agora falando de mim

(Chico Buarque)

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

sábado, 6 de novembro de 2010

A Escolhida

as vezes ela tinha a impressão de ser a escolhida...
a escolhida pra se fuder.
Sim, isso. Muitas vezes achava que se rolasse uma merda, a merda ir rolar com ela. E na prática essa teoria não era difícil de se comprovar. Qualquer um pode ir juntando os infortúnios da vida e provar, por A mais B, que a vida lhe deu muitas rasteiras. Definitivamente, não eram só trsitezas. Não, não, definitivamente. Várias vezes na vida achou que foi a escolhida para se dar bem... mas a hora que rolava algo ruim, não é que era algo de apertar o coraçãosinho dela?
E ai tentando achar justificativa refletia: Afinal,alguem vai precisar se desdobrar no papel da quem tem o coração apertado para que o coração de um outro possa se expandir.
Ela nao tinha pena de si mesma, mas nos momentos em que julgava a vida injusta, desejava que houvesse espaço suficiente para que todos os corações se expandissem.
A menina não sabia que expandir corações ficava mais difícil pra ela justamente porque...
as vezes ela tinha a impressão de ser a escolhida...

domingo, 31 de outubro de 2010

Eu teria tanto, tanto pra falar aqui que não falarei nada. Porque simplesmente não cabe... ha algo faltando no texto que escrevi anteriormente, mas não vou forçar e tambem nao não vou apagar... quando eu descobrir, se é que eu vou descobrir o que falta, conto a vocês...

sábado, 30 de outubro de 2010

texto atrapalhado

nem sempre se está inspirado pra escrever.
hoje, por exemplo to com a sensação que tenho algo pra falar, mas não sei o que é, coisa irritante.
to aqui escrevendo porque acho que tenho que fazer isso, mas aparentemente nada específico pra dizer... o que vem primeiro éeee, hummm...
Tive boas noticias no trabalho sexta-feira, reconhecimento profissional sempre é bom. Voltei de uma viagem estressante de trampo e recebi um retorno bacana do chefe. Ai, alivio, isso eu to fazendo direito. E não é que eu tive essa expressão na frente do chefe? De puro alívio. Quando ele me elogiou e me propôs um retorno concreto eu falei: ai que alivio! Depois pensei; ele deve ter me achado louca. Antes de agradecer, de falar um pouco do que tem sido os meses de trabalho, dei um suspiro como se um peso imenso saísse das minhas costas. LOKA. Mas o suspiro foi isso, foi pensar: oks Bia, nessa área da sua vida tudo ok, continue se dedicando nessa direção que parece que é por aí mesmo.

Digo nessa área, porque ultimamente to meio atrapalhada. Simmm mais atrapalhada do que de costume. Até pra relacionamentos mais intímos, por exemplo, to atrapalhada. Não sei como fazer determinadas coisas... não quero magoar, mas não quero dizer sim, não quero dizer não... Sabe quando a gente ta afim de só fazer e depois não pensar muito? Pois é, sei que não pode muito porque a gente não ta só. Afinal de contas me relaciono com o outro e não com meu alterego. Mas to assim, quero sair fazendo, quero estar, não quero estar, quero conversar, não quero conversar.

To querendo o que é fácil, quero relações fáceis, coisas simples, quero parar de prestar atenção no tempo, quero o tempo passando sem perceber. Eu sei que quando não noto que o tempo passa, eu estou serena. Meu amigos me dão isso, minha sobrinha me dá isso, parceria me dá isso... adorooooo. Adoro, por exemplo, o fato de ser sábado, 6 da tarde, e estar achando que tenho pouco tempo pra fazer coisas boas, porque estive com quem eu quis no momento em que eu quis e o tempo voou!
Adoro saber que tenho planos pra amanhã e depois e que não quero que o fim de semana e o feriadão acabem.
Sei que a vida pra mim acontece quando não me preocupo com o passar das horas... quando eu mesma sou meu tempo. As semanas não tem sido simples, e depois de passar dias e dias na tortura da passagem de cada minuto, depois de algum tempo, pela primeira vez hoje volto a me supreender com o tempo que não vi passar. E então posso dar novamente um suspiro de alivio pra dizer: ufaaa, no que diz respeito ao resto da minha vida, pode ser que seja por aí também... pelo menos por um tempo

domingo, 24 de outubro de 2010

incongruências

de vez em quando acho que passou, de vez em quando dói pra caralho...
de vez em quando tenho boas lembranças, de vez em quando só lembro do que é ruim...
de vez em quando lembro, por horas esqueço completamente...
de vez em quando quero voltar atrás, depois tenho um desejo imenso de seguir em frente
de vez em quando tenho vontade de gritar, de vez em quando o silêncio é o que me salva
as vezes penso em quebrar pratos, as vezes quero a paz serena e o alivio do fim...
de vez em quando me arrependo, horas depois tenho orgulho
de vez em quando afasto alguem querido de mim, depois corro pro colo
as vezes acredito na declaraçao, na maioria das vezes, agora, tenho duvidado de todas
as vezes ocupo espaços, de vez em quando sou bem pequena
de vez em quando sou gentil, em outros momentos sou capaz de uma estupidez absurda...
de vez em quando sou eu, outras vezes sou eu também...

sábado, 23 de outubro de 2010

Eu só peço a Deus um pouco de malandragem

pedra ou vidraça

tem coisas que a gente aprende se separando de quem se ama/amou... uma delas é como as pessoas se movimentam...algunas movimentos so vao aparecer na hora de se despedir, de se cortar vinculos: nesse momento, você pode querer preservar o outro e fazer elogios a respeito de quem foi aquela pessoa pra você, você pode querer destuir o outro, você pode falar que o outro é surtado, você tambem pode sair se gabando dizendo que foi você quem deu um basta e tomara que a pessoa encontre um rumo e seja feliz, ou você pode ainda silenciar ou dizer que sente muito e lalalal... Certamente eu já fiz de tudo na vida... mas não fico bem quando tento diminuir minha responsa, desconstruindo o outro... Que tenhamos inteligência para sacar se em algum momento o que falamos e fazemos desrepeita quem foi uma escolha querida há tempos atrás. Porque no the end é isso que vale.
`Ser pedra é fácil, o difícil é ser vidraça...

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Basiquinho

"O que me arrebata é capaz de deixá-lo insensível e vice-versa;
o que em você é inocência, em mim pode ser culpa e vice-versa;
o que para você não tem consequências pode ser a tampa do meu caixão".


(Kafka)

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Carnudas, brancas, finas, pequenas, redondas, grandes, siliconadas.Bocas de todos os tipos. Boca de anjo. Boca de pai que aconselha o filho. Tem boca de mulher que questiona. Boca de criança cheia de sorvete. Boca de velho desdentado, mas tem boca de velho com dentadura.... Tem boca saudável e boca fedida. Bocas com cheirinho de morango, outras tantas cheirando a menta. Tem boca que jura amor eterno, tem boca que mente. Tem mente presa a uma boca beijada numa festa casual. Tem boca que dita leis e boca que desfere sentença. Tem boca amargurada. Tem boca seca de sede. Tem boca faminta. Tem boca que nunca provou um beijo. Tem boca que já nasce morta. Tem boca que morre sem pedir perdão. Tem boca que já esteve na lua. Tem boca que já comeu meleca. Tem boca que torce. Tem boca que nada quer.Algumas cantam, outras emudecem. Todas praguejam. (Alan Carfon)

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Amor sem barraco não é amor

“Acabamos numa boa”, me diz a amiga W., uma das tantas moças de fino trato que me elegeram confidente. Tudo bem, sou todo ouvidos, escuto imperturbável e sereno como uma caricatura do doutor Sigmund Freud baforando o seu charuto.

Ela prossegue: “Sem drama mesmo, sabe?”.

Sim, sei, conta outra para ver se acredito.

“Nunca achei que fosse possível terminar de uma forma tão tranqüila e sem mágoas”, continua W. sem parar de falar, compulsiva, com sua narrativa sob suspeita.

Ah, conta outra, amiga, desconfio no meu inoxidável silêncio de ouvidor-geral dos corações aflitos.

A mulher com W maiúsculo, como naquela canção do Mundo Livre S/A, narra ainda: “Acabar assim é ótimo, agora temos toda a tranqüilidade para cuidar das coisas práticas sem aquela loucura no juízo”.
Na minha silenciosa caixola de confidente, agora toca baixinho outro refrão: “Que mentira, que lorota boa”. Essa é do Luiz Gonzaga, um clássico – não sei pensar sem fundo musical, mania antiga, caro(a) leitor(a).
Ela fala mais que o homem da cobra, um Pentecostes de conversa, sempre com a mesma tese: acabamos numa boa, numa “nice”. Conta outra, minha querida, pensa que eu nasci ontem e de sete meses?
Ah, toda vida que alguém me conta que pingou o ponto final em um relacionamento sem as dores de sempre, ligo o botão de todas as dúvidas e suspeitas.
O amor, se é amor, não se acaba de forma civilizada.
Nem no Crato, Brumadinho, Mimoso ou Estocolmo, na Suécia.
Se ama de verdade, nem o mais frio dos esquimós consegue escrever o “the end” com o dedinho no gelo sem uma quebradeira monstruosa.
Fim de amor sem baixarias é o atestado, com reconhecimento de firma e carimbo do cartório, de que o amor ali não mais estava.
O mais frio, o mais cool dos ingleses estrebucha e fura o disco dos Smiths, I Am Human, sim, demasiadamente humano esse barraco sem fim. O mais relaxado dos latinos se acaba no bolero de Bienvenido Granda, com suas angústias e perfumes de gardênias. O mais zen dos brasileiros acaba com os mananciais da água que passarinho não bebe. E tome Roberto, Waldick ou Chico Buarque, no caso dos mais finos.
O que não pode é sair por ai assobiando, camisa aberta, relax, chutando as tampinhas da indiferença para dentro dos bueiros das calçadas e do tempo.
O fim do amor exige uma viuvez, um luto, não pode simplesmente pular o muro do reino da Carençolândia para exilar-se, com mala e cuia, com a primeira costela ou com o primeiro traste que aparece pela frente.
Acabar numa boa é como nada tivesse havido. Conta outra que só acredito no amor dos corações em permanente barraco.

(Xico Sá)

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Enfim a novidade vai libertar

Hoje eu descobri uma coisa que eu não conhecia. Nao que eu já nao conhecesse o que descobri, mas sabe quando um lado aparece sob uma nova luz? Na real nao foi o lado que apareceu mas eu que passei a focar luz nesse lado e passei a olhar.
Fiquei chocada com a novidade? Nao, me choquei comigo. Com a minha demora em perceber que aquilo daquele jeito tava ali o tempo todo, as vezes extamente do jeitinho que eu vi hoje. Extatamente daquele jeito.
A gente é assim. Eu sou muito assim: quando eu não quero eu não vejo, e quando eu vejo muitas vezes ja é tarde... eu ja me perdi. Antes me fazia bem, de repente é venenoso. O remédio que cura tambem pode matar.
Mas hoje eu tambem me achei porque a verdade liberta, nem sempre é agradável, mas liberta.
È como se um peso imenso fosse se diluindo com a dor e como se a vida tivesse a possibilidade de um novo começo
O melhor é que passado horas, eu começo novamente a saber quem eu sou. E ja sei que nao sou mais louca porque so vi hoje, e já sei que nao exagerei quando vi o que de fato vi e ja sei que vai passar o mal estar e já sei principalmente que eu não preciso mais me desculpar por isso. Cada um que se responsabilize pelo o que vê e pela mascára com a qual quer aparecer.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

bar ruim é lindo, bicho

Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso freqüento bares meio ruins. Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de 150 anos. (Deve ter alguma coisa de errado com uma vanguarda de mais de 150 anos, mas tudo bem). No bar ruim que ando freqüentando nas últimas semanas o proletariado é o Betão, garçom, que cumprimento com um tapinha nas costas acreditando resolver aí 500 anos de história. Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos ficar "amigos" do garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam para falarmos de literatura. "Ô Betão, traz mais uma pra gente", eu digo, com os cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto parte do Brasil.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos fazer parte do Brasil, por isso vamos a bares ruins,que tem mais a cara do Brasil que os bares bons, onde se serve petit gateau e não tem frango à passarinho ou carne de sol com macaxeira que são os pratos tradicionais de nossa cozinha. Se bem que nós, meio intelectuais, quando convidamos uma moça para sair pela primeira vez, atacamos mais de petit gateau do que de frango à passarinho, porque a gente gosta do Brasil e tal, mas na hora do vamos ver uma europazinha bem que ajuda. A gente gosta do Brasil, mas muito bem diagramado. Não é qualquer Brasil. Assim como não é qualquer bar ruim. Tem que ser um bar ruim autêntico, um boteco, com mesa de lata, copo americano e, se tiver porção de carne de sol, a gente bate uma punheta ali mesmo.

Quando um de nós, meio intelectuais, meio de esquerda, descobre um novo bar ruim que nenhum outro meio intelectual, meio de esquerda freqüenta, não nos contemos: ligamos pra turma inteira de meio intelectuais, meio de esquerda e decretamos que aquele lá é o nosso novo bar ruim. Porque a gente acha que o bar ruim é autêntico e o bar bom não é, como eu já disse. O problema é que aos poucos o bar ruim vai se tornando cult, vai sendo freqüentado por vários meio intelectuais, meio de esquerda e universitárias
mais ou menos gostosas. Até que uma hora sai na Vejinha como ponto freqüentado por artistas, cineastas e universitários e nesse ponto a gente já se sente incomodado e quando chega no bar ruim e tá cheio de gente que não é nem meio intelectual, nem meio de esquerda e foi lá para ver se tem mesmo artistas, cineastas e universitários, a gente diz: eu gostava disso aqui antes, quando só vinha a minha turma de meio intelectuais, meio de esquerda, as universitárias mais ou menos gostosas e uns velhos bêbados que jogavam dominó. Porque nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos dizer que freqüentávamos o bar antes de ele ficar famoso, íamos a tal praia antes de ela encher de gente, ouvíamos a banda antes de tocar na MTV. Nós gostamos dos pobres que estavam na praia antes, uns pobres que sabem subir em coqueiro e usam sandália de couro, isso a gente acha lindo, mas a gente detesta os pobres que chegam depois, de Chevete e chinelo Rider. Esse pobre não, a gente gosta do pobre autêntico, do Brasil autêntico. E a gente abomina a Vejinha, abomina mesmo, acima de tudo.

Os donos dos bares ruins que a gente freqüenta se dividem em dois tipos: os que entendem a gente e os que não entendem. Os que entendem percebem qual é a nossa, mantém o bar autenticamente ruim, chamam uns primos do cunhado para tocar samba de roda toda sexta-feira, introduzem bolinho de bacalhau no cardápio e aumentam em 50% o preço de tudo. Eles sacam que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, somos meio bem de vida e nos dispomos a pagar caro por aquilo que tem cara de barato. Os donos que não entendem qual é a nossa, diante da invasão, trocam as mesas de lata por umas de fórmica imitando mármore, azulejam a parede e põem um som estéreo tocando reggae. Aí eles se fodem, porque a gente odeia isso, a gente gosta, como já disse
algumas vezes, é daquela coisa autêntica, tão brasileira, tão raiz.

Não pense que é fácil ser meio intelectual, meio de esquerda, no Brasil! Ainda mais poque a cada dia está mais difícil encontrar bares ruins do jeito que a gente gosta, os pobres estão todos de chinelo Rider e a Vejinha sempre alerta, pronta para encher nossos bares ruins de gente jovem e bonita e a difundir o petit gateau pelos quatro cantos do globo. Para desespero dos meio intelectuais, meio de esquerda, como eu que, por questões ideológicas, preferem frango a passarinho e carne de sol com macaxeira (que é a mesma coisa que mandioca mas é como se diz lá no nordeste e nós, meio intelectuais, meio de esquerda, achamos que o nordeste é muito mais autêntico que o sudeste e preferimos esse termo, macaxeira, que é mais assim Câmara Cascudo, saca?).

-- Ô Betão, vê um cachaça aqui pra mim. De Salinas quais que tem?

(Antônio Prata)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

travas do ser humano

Ai dos tímidos que se encolhem aos abraços, que aguejam emoções e palavras e que ruborizam as mais óbvias trivialidades!
Ai dos rígidos  de coração  que nem tentam explicar o que nem sabem o que sentem!
Ai dos cimentados de corpo que nunca pularam de alegria ou no carnaval e que escondem embaixo da cama a sua tosca e fosca sensualidade nunca vivida!
Ai dos aparentemente insensíveis, eles próprios uma chaga viva de suas dores mais doídas!
Tende compaixao de nós, tende piededade! Rogai por nós! Ai de nós!

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

mal humorsinho básico

descobri que mal humor é uma necessidade... meu corpo pede mal humor, eu sou um ser infeliz se nao tenho uma ou duas crises de mal humor durante a semana. O mal humor serve pra que eu, por algumas horas, período ou dia, tenha consicencia exata de que eu tenho insatisfaçoes importantissimas e que eu nao sou tao legal assim...  nao ser tao legal  me permite fazer coisas que ser tao legal (o que eu sou ou tento ser na maioria do tempo) não me permitiriam.. to curtindo meu mal humor, to até ficando feliz... sou um ser pra lá de verdadeiro quando to mal humorada!

Excesso de Culpa

Hoje eu encontrei um exemplo bem prático de como os brasileiros são enrolados. Eis que eu reiniciei o aparelho da Sky. Não foi intencional, é que houve uma tempestade (sem exageros) em Florianópolis ontem e eu, com medo que tudo pifasse por causa de um raio raivoso, tirei os aparelhos eletrônicos da tomada. Hoje, ao religar a TV e a Sky, me deparei com um drama. Enquanto um produto sei lá, inglês, ou pelo menos europeu, diria “Please wait, this may take a few minutes”, ou seja “por favor aguarde, isto pode levar alguns minutos”, a Sky resolveu avacalhar comigo e colocar pelo menos dez mensagens para me assegurar de que um dia, eventualmente, a imagem iria aparecer. Dane-se a Sky, entende? Não faz a menor diferença se a vai imagem aparecer em 10 segundos ou 10 minutos, o que eu não quero é achar que ela vai aparecer a cada trinta segundos que a tela muda para me dizer que “Por favor, aguarde”; “Configurando o satélite”; “Atualizando as informações”; “Aguarde mais alguns instantes”; “Configurando o sinal”; “A imagem aparecerá em breve”; “Ajustando configurações do receptor”… Hello? Eu não pedi um relatório, você não precisa me informar dos seus procedimentos padrões necessários para o religamento do aparelho. Eu não poderia estar menos interessada. A Sky sentiu que precisava me explicar que ela estava fazendo algo, como se fosse culpada de ter que atualizar o sistema, configurar o satélite e fazer sei lá o quê com o receptor. Eu não estava braba com a Sky por me fazer esperar, então ela não precisava ter me dado todas aquelas justificativas detalhadas como quem diz “desculpa, mas eu não vou poder jantar com você porque eu prometi ao meu irmão que iria cuidar do filho dele hoje à noite para que ele possa ir ao cinema com a esposa dele porque, sabe como é, né, depois que se tem filhos tudo fica um pouco complicado. Então não, não tem a ver com você, é só porque eu já tinha compromissos mesmo….” (bocejos). Falta um pouco de objetividade e falta não sentir culpa. Um “por favor, aguarde” já está bom. Sem detalhes, sem expectativas.

Por Melina Savi

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Cinzas

Foi uma questão de meses. Em meses se repetiu, incessantemente, a frenética queima de fogos toda vez que estiveram juntos. Não havia pudores, papas na língua: em pouco tempo gastaram o que muitos levam vidas pra conseguir. E consumiram um ao outro vorazmente apesar do mundo. Eram amigos, desde aquela primeira troca galopante de palavras. Eram amigos ávidos, nervosos por revelações completas, por desnudar idéias e conceitos há muito escondidos. Ela raramente o fazia, mostrar-se assim tão prontamente. Ele prezava a experiência por si só, ignorando as consequências daquilo tudo. Foram ousados e pretensiosos demais, querendo com dois pares de braços abraçar toda existência. Mas tudo foi vivo por este período convulsivo, e brilhou barato por trás de camadas de pó e fumaça de cigarro ruim. E os dois desfrutaram daquela decadência nua como se não houvesse amanhã. Como se o lixo nas ruas fosse alguma coisa além de lixo. E durante algum tempo, a realidade não fazia cobranças. Por algum tempo foi-lhes permitido viver assim, sinceros. Os seus fantasmas e medos continuavam a existir, mas com eles se moldava tranquilamente estátuas feitas apenas para desmoronar. A insegurança era motivo de riso e indagações, uma desculpa pra ir mais fundo, pra machucar mais e ver o sangue poético escorrer. Equilibraram-se, bêbados da noite, em fios de telefone, nas bordas de camas alheias. E riram alto e desafiadores disso tudo, de todas as necessidades estúpidas de toda aquela gente amorfa. Gargalharam amargos, colocando-se de fora daquilo tudo, do oitudobemtudobemevocê, dos apertos de mão, dos abraços vazios. Riram e ergueram suas taças, brindando à caminhada cega das massas até o precipício. Eles caíram juntos, de olhos bem abertos. (d.mental)

terça-feira, 21 de setembro de 2010

ousadias


ta rolando uma maratona teatral em Floripa... tudo de bom porque coisas acontecem né. Amo minha terra, minha ilha, mas as coisas são um pouco morosas aqui pra acontecer. Então...  em um surto de cultura tem 3 festivais acontecendo ao mesmo tempo, o que me enlouquece porque quero ir a tudo. Sim, a tudo. Não sei porque a gente não pode querer tudo... queria ir a tudo, meio pra ter crédito sabe; pra ficar tranquilinha  quando as coisas pararem de acontecer. Uma overdose de arte que é pra guentar até o próximo festival...
Nessa minha fissura por aproveitar, ontem fui a um espetáculo ótimo chamado In on It. Vale muito ir, não sei explicar o que é, do que se trata, é ousado... e abre várias possibilidades de historias, da uma confundida no raciocínio, causa expectativa, mas não trata de nada específico e é exatamente o título, In on It. Gostei!
Já hoje a minha ousadia foi sair das duas peças sem que  elas tivessem acabado. Sorry, eu sei que a arte é complexa e há lugares pra todos, mas foi demais. Eu tava com amigas que compartilhavam da mesma sensação de que pra tudo nessa vida se precisa de critério e ai infelizmente não deu pra permanecer até o fim.
 Ainda assim eu acho que vale a pena a ir a tudo que der, acho mesmo que tem que ir pra dar uma olhadinha que seja. Ver como as pessoas estão pensando as coisas, a vida, as formas de ser, de representar. Sair do mundo quadrado que a gente acha que não está, mas que a vida acaba levando a gente, o mundinho formatado, igual e semi-previsível. A segurança do cotidiano é boa, mas se impressionar é fundamental. E as surpresas e o inesperado podem servir como combustível pra nossos próprios atos.  Pra que possamos provocar supresas e atos impressionantes. Hoje, por exemplo, fiz pequenas coisas que em um estado morno não faria. São pequenas coisinhas, pequenas ações inesperadas, supresinhas... micro ousadias.. mini atrevimentos... foi bom.

domingo, 19 de setembro de 2010

Aniversario da Lu (18 de setembro de 2010). Lu é a amiga charmoserrima e palhaça de olhos fechados. Festa otema e as melhores mulheres do mundo. Eu tenho menos significado sem essas mulheres. Meninas voces sao geniais!

sábado, 18 de setembro de 2010

Querer que qualquer um seja sensível ao nosso
mundo íntimo é o mesmo que estar sentindo um zumbido
no ouvido e pensar que o nosso vizinho de ônibus o possa
escutar.
(Mário Quintana)

Tempo

Então... eu gosto de escrever e achei melhor confessar antes que o tempo faça com que a gente desista. Porque pra quem não sabe o tempo faz coisas com a gente. Por exemplo, faz com que a gente desista porque o tempo passou e não vale mais a pena, faz com que a gente  invista porque o tempo passou e o projeto continua bonito. Eu já havia pensado em fazer um blog só meu (por vezes achava um projeto bonito, por vezes achava que nao valeria a pena). Eu to feliz porque não desisti.
Neste exato momento estou decidindo ser o mais sincera que posso comigo mesma. Tão difícil ser sincera consigo mesma. Pra mim é uma maratona íntima, meu Deus, me leva uma energia insana. Mas ta, compromisso Bia, compromisso. Estar escrevendo isso já é meu primeiro passo de sinceridade comigo mesma, eu curto escrever. E eu também me preocupo com o que vão pensar do que eu escrevo (outro ato de sinceridade). Aliás, me preocupo com o que pensam de mim. Um pouco menos do que me preocupava ontem e um tanto menos do que eu me preocupava no ano passado e infinitivamente menos do que há 10 anos atrás, mas rola (viu? ato 3 de sinceridade). Aí, me dou conta que ser sincera comigo mesma implica em mostrar quem eu sou, então implica em ser sincera com as pessoas (preocupando-se cada vez menos com o que vão pensar e simplismente sendo). Querida pessoa que lê esse texto: o ato de ser sincera comigo mesma e, portanto, com você, já me fez apagar varias vezes palavras e frases escritas aqui porque me flagrei escrevendo pequenas coisas não honestas.
O problema de simplismente ser, é que nem todos te compreendem, então há de se ser sincera e despreendida  ( despreendimento daria outro texto).
Enfim, então sinceramente, o tempo tem me feito um pouco cansada de algumas coisas. E eu definiria minha lista de cansaços na seguinte ordem: 1, cansada de aeroporto, 2, cansada de aeroporto (é duas vezes mesmo, minha sinceridade pediu),  3,  cansada de pequenas expectativas desonestas, do tipo o avião vai sair ou eu vou emagrecer sem esforço ou os homens vão mudar e as mulheres  serão mais despreendidas (quase apaguei esta num ato legítimo de me enganar), 4, cansada de não ser tratada bem (ESSA EU FALO ASSIM COM MUITA VONTADE), EU NAO quero mais não ser tratada bem, sou legal, querida e com um certo grau de articulação de pensamentos e expressão de sentimentos (adorei essa sinceridade semi-modesta!!!),. Então, exceto em ocasiões em que eu cometa uma injustiça ou grosseria, não aceito mais.que faltem com respeito ou me tratem indelicadamente. 5, cansada de várias pequenas coisas que to cansada agora para descrever... mas são bem chatas e cansativas.
O tempo também tem me motivado para algumas coisas (estou querendo dizer que nao estou só cansada) Mas não vou ser desonesta conosco  e escrever isso agora, porque a motivação sincera deste texto foi  falar de coisas que me estão cansando. To chateada, porque não gosto de estar cansada assim. Me tira a energia, me entristece um pouco. Mas, declaro que há uma satisfação interior da dignidade que a honestidade me traz. Como diz a expressão criada em conjunto com um amigo querido: Há um “susseguinho” na escolha de ser eu mesma. Espero estar sendo sincera.